quinta-feira, 30 de junho de 2016

Dossiê A era das descobertas: uma américa reconstruída

Como é bem sabido, a palavra “índio” foi fruto de um equívoco. Cristovão Colombo, julgando haver chegado à Índia, assim se referiu à população nativa que encontrou. Desfeito o engano, o termo persistiu. Foi utilizado durante todo o período colonial e pós-colonial. Há algumas décadas, certos pesquisadores o acusaram de etnocêntrico. Argumentavam que os índios não se percebiam de maneira genérica, preferindo empregar as suas origens étnicas específicas, como guaranis, por exemplo. Lembravam ainda a sua utilização na construção de políticas de dominação da população nativa pelos impérios ultramarinos. Os termos, porém, são flexíveis e podem adquirir diferentes significados. As críticas devem ser consideradas, mas não justificam o seu abandono. Os maiores interessados na discussão, os próprios índios, passaram a empregá-lo em suas relações com os europeus desde meados do século XVI, com conotações bastante versáteis.

Mais problemático, porém, é que o uso do termo de maneira desavisada pode nos conduzir a um grande equívoco: considerar que existia algum tipo de unidade da população americana na virada do século XV para o XVI. Nada mais distante da realidade. A América era habitada por distintos grupos com organizações sociais específicas, cujas relações entre si eram variáveis. Há diferentes formas de analisar tal diversidade. Algumas consideram as respectivas línguas, outras se baseiam nas relações com o território ou, ainda, nas organizações políticas. Nunca é demais lembrarmos que não se trata de hierarquizar as diferenças. Elas respondiam a uma série de fatores, desde adaptações ao meio ambiente até escolhas dos envolvidos. Entre as organizações com maior centralização política na época destacam-se os astecas e incas. Seus impérios formaram a base da América espanhola, e a conquista não pode ser explicada sem considerarmos as suas principais características. Mas, quando falamos de conquista, geralmente pensamos no México e no Peru, desconsiderando o igualmente importante caso brasileiro, por vezes equivocadamente apresentado como mais pacífico. A população do litoral brasileiro também era muito diversa, com predominância dos tupis-guaranis.

GUERRA SEM FIM NA COSTA BRASILEIRA

A organização baseava-se em pequenos grupos, que se relacionavam entre si sobretudo através de atividades guerreiras. Obtinham assim prisioneiros, que eram sacrificados em cerimônias de antropofagia. Os cativos mais valorizados eram os líderes, pois a antropofagia era considerada uma forma de vingar os ancestrais que haviam sido sacrificados pelos rivais. Inicialmente, essa prática foi aproveitada pelos portugueses, que assim obtinham uma importante mercadoria intercambiada nos primeiros contatos: os escravos.

Os grupos tupis-guaranis receberam bem os portugueses, e outros europeus, que começaram a desembarcar na costa a partir de 1500. O comércio era desenvolvido com interesse pelos índios, que ofereciam pau-brasil, animais exóticos e escravos. Providenciavam também o necessário à sobrevivência dos recém-chegados, sobretudo informações e alimentos. Em troca recebiam mercadorias variadas, como machados de ferro, que diminuíam significativamente o tempo gasto em certas atividades. As relações mudaram após o estabelecimento das primeiras unidades produtivas no Brasil na década de 1530. As atividades envolvendo a fabricação do açúcar, desde o plantio da cana até a pesada rotina nos engenhos, traziam exigências diferentes das até então enfrentadas pelos índios. Ali foram empregados em grande medida escravos da terra. A fim de atender à nova demanda por mão de obra, os tupis-guaranis passaram a envolver-se em guerras cada vez mais frequentes para obterem uma maior quantidade de cativos, por vezes incentivados pelos interesses dos portugueses.

As guerras foram perdendo a sua função ritualística à medida que seus objetivos visavam atender ao comércio com os colonos. Com o passar do tempo, os portugueses, em busca de mais escravos, começaram a atacar também os grupos com os quais mantinham relações comerciais, geralmente à traição. Quando perceberam a mudança, os índios promoveram uma série de revoltas e foram capazes de colocar em risco a permanência lusitana no Brasil.

Os portugueses também reagiram: em 1549, o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, chegou à Bahia acompanhado dos primeiros jesuítas que vieram à América. O projeto de Dom João III era “pacificar” os índios e regular a sua relação com os colonos, oferecendo-lhes algumas garantias que nem sempre foram cumpridas. Por outro lado, para os índios que atacassem os portugueses não haveria perdão: sucederam-se assim as guerras de conquista. As mais célebres foram as conduzidas pelo terceiro governador-geral, Mem de Sá, que promoveu uma série de combates contra os índios na costa. Esteve ainda à frente da conquista da Guanabara, onde os franceses haviam se estabelecido em meados da década de 1550, auxiliados pelos seus aliados tamoios. As guerras de conquista foram um grande negócio: os envolvidos obtinham terras para o monarca e para si, além de uma grande quantidade de cativos aprisionados nos conflitos. Com esses bens, terras, escravos indígenas e prestígio político, os conquistadores obtiveram o necessário para estabelecer-se no Brasil. Trata-se das origens das primeiras fortunas coloniais.


ASTECAS NA MESOAMÉRICA

Os astecas estavam localizados na Mesoamérica, região que hoje abrange grande parte do México, Guatemala e Belize. Inclui ainda algumas áreas de Honduras e El Salvador. No momento da conquista espanhola, em 1519, o seu domínio era recente em termos históricos: tinha menos de um século. Eles haviam migrado do norte e, após uma série de vicissitudes, se estabeleceram no que futuramente seria a sede do seu império: Tenochtitlán, base da atual Cidade do México. A Mesoamérica havia passado por uma sucessão de organizações imperiais intercaladas com momentos de fragmentação política e relativa autonomia de unidades menores, que disputavam entre si a proeminência sobre as demais. Essa era a situação quando os astecas chegaram. Inicialmente eles se envolveram nos confl itos locais, mas o cenário começou a mudar rapidamente em 1428. Na ocasião, três cidades, Tenochtitlán, Texcoco e Tacuba, se uniram e empreenderam campanhas militares vencedoras, dando início à construção do império asteca. Logo, Tenochtitlán se projetou sobre as outras.

Império, nesse caso, não pressupunha políticas de assimilação da população conquistada. Tratava-se em grande parte de uma relação tributária: os derrotados eram transformados em pagadores de impostos. As guerras também eram uma forma de obtenção de cativos necessários ao sacrifício cerimonial. Apesar de parecer algo espantoso para a nossa sensibilidade, o sacrifício humano era uma das bases da vida religiosa de vários grupos indígenas. Para compreendê-lo, devemos evitar julgar o passado com os olhos do presente e considerá-lo no seu respectivo contexto. Na Mesoamérica, por exemplo, as imolações faziam parte de crenças muito arraigadas, compartilhadas por diferentes povos. No caso dos astecas, destacava-se a relação com o seu deus principal: Huitzilopochtli. Para garantir-lhes um caminho vitorioso, ele deveria ser satisfeito com sacrifícios constantes.

ÍNDIOS ALIADOS AOS EUROPEUS

Certos aspectos da lógica do império asteca viabilizaram a conquista e a construção da sociedade colonial. Como não havia maiores vínculos com o poder central, as diferentes unidades que o compunham tampouco se mostraram muito leais diante da chegada dos espanhóis.

Para muitas, em um primeiro momento, a conquista parece ter significado apenas a troca do destinatário dos tributos devidos. Porém, foi um antigo problema dos astecas que influenciou de forma fundamental na conquista: os seus inimigos tlaxcaltecas. Estes repeliram todos os intentos de domínio, derrotando-os em várias ocasiões. A chegada dos espanhóis lhes pareceu uma oportunidade de livrar-se de vez dos adversários. Então forneceram os guerreiros e as informações necessárias para Cortés preparar a investida contra Tenochtitlán. Após a vitória, os tlaxcaltecas passaram a apresentar-se como os grandes aliados dos espanhóis, com quem tinham contribuído para derrotar um inimigo em comum: os astecas.

OS INCAS E SEU PODER PÓS-MORTE

Já o império inca estava localizado nos Andes centrais, com capital em Cuzco. Atualmente, a área corresponde ao Equador, Peru e Bolívia, além de partes do Chile e da Argentina. Sua organização política e cultural estava ancorada em práticas muito antigas naquele espaço, que foram incorporadas e reajustadas pelos incas. Assim como no caso dos astecas, o seu domínio nos Andes também tinha apenas cerca de um século na época da conquista espanhola. A lógica política vigente foi fundamental para promover a sua expansão territorial: os governantes, os chamados “incas”, mantinham parte de seu poder depois de mortos. Sua corte, que se chamava panacae era formada pelos seus descendentes, exceto o que se tornava o próximo inca, ficava responsável pela administração dos bens do falecido. Tratava-se não apenas de propriedades materiais: relacionava-se também com os territórios que haviam sido por ele conquistados, incluindo os tributos pagos pelos seus habitantes. O novo inca tinha então de recorrer à expansão para angariar territórios e bens para si. Essa crença na manutenção pós-morte de domínios era muito difundida nos Andes. A sua múmia continuava inserida na vida social, participava de cerimônias e era consultada pela panaca em várias situações.

Apesar de ter sido eficaz para a construção do império, tal lógica começou a apresentar alguns limites, que são fundamentais para compreendermos a conquista pelos espanhóis no princípio da década de 1530. Em 1525, o inca Huayna Cápac morreu no Equador, onde estava envolvido em campanhas militares expansionistas.

Então os limites da lógica do império já podiam ser sentidos: os incas estavam encontrando populações cada vez mais difíceis de conquistar. Enfrentavam ainda problemas administrativos causados por um império agigantado, onde o governante tinha de compor com o poder político e econômico das cortes dos seus antecessores. O herdeiro de Cápac, Huáscar, iniciou uma série de reformas que suprimiam o poder das panacas. O resultado foi uma guerra civil que contrapôs a sua facção à de Atahualpa, que se apresentava como um sucessor alternativo ao posto de inca. Atahualpa venceu, mas não usufruiu os frutos do seu triunfo. A caminho de Cuzco para tomar posse, passou por Cajamarca, onde encontrou Pizarro e seus homens. Dali não sairia vivo. Pizarro o aprisionou e exigiu um grande resgate para soltá-lo. Os índios cumpriram com a sua parte; Pizarro não. O resgate foi pago e mesmo assim Atahualpa foi assassinado.

Os espanhóis então partiram para Cuzco, onde encontraram um império enfraquecido pela guerra civil. As reações aos conquistadores foram diversas. Alguns índios não tardaram muito em envolver-se com os espanhóis na construção do governo colonial, através da colaboração política e de relações matrimoniais. Outros organizaram uma resistência coordenada a partir do estado neoinca de Vilcabamba. Estes foram derrotados em 1572, quando seu líder, Túpac Amaru, foi preso e depois executado em Cuzco.

Houve muitas conquistas na América, outras poderiam ser mencionadas, com significativas variações cronológicas. Os índios não foram todos dominados com o surgimento da sociedade colonial, que possuía limites territoriais modestos e descontínuos. Muitos grupos mantiveram sua autonomia política. No momento das independências americanas, na virada do XVIII para o XIX, o território governado pelos índios era maior que o ocupado pelas sociedades de origem europeia. Por outro lado, os integrados à colonização em uma condição subordinada também foram capazes de reconstruir suas vidas, dando significado ao mundo que então se construía. Se tomamos tais processos da perspectiva indígena, somos capazes de perceber com outros olhos as excessivamente triunfantes narrativas europeias sobre a conquista e a colonização.


Por Elisa Frühauf Garcia

quarta-feira, 29 de junho de 2016

A guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul no século 19. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias.
É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza) na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no Paraguai.

A Batalha do Riachuelo, um dos mais sangrentos episódios da Guerra do Paraguai.- óleo de Vítor Meireles





A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve seu início  em dezembro de 1864 e só chegou ao fim no ano de 1870, com a morte de Francisco Solano Lopes em Cerro Cora. 
Francisco Solano López, ditador do Paraguai.


Causas

Desde sua independência, os governantes paraguaios afastaram o país dos conflitos armados na região Platina. A política isolacionista paraguaia, porém, chegou ao fim com o governo do ditador Francisco Solano López.
Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia organizado tropas, invadido e deposto o governo uruguaio do ditador Aguirre, que era líder do Partido Blanco e aliado de Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira do Uruguai, porque contrariava seus interesses.
Como retaliação, o governo paraguaio aprisionou no porto de Assunção o navio brasileiro Marquês de Olinda, e em seguida atacou a cidade de Dourados, em Mato Grosso. Foi o estopim da guerra. Em maio de 1865, o Paraguai também fez várias incursões armadas em território argentino, com objetivo de conquistar o Rio Grande do Sul. Contra as pretensões do governo paraguaio, o Brasil, a Argentina e o Uruguai reagiram, firmando o acordo militar chamado de Tríplice Aliança.


Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da tríplice aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas.

As batalhas da Guerra do Paraguai

A guerra do Paraguai durou seis anos, período durante o qual travaram-se várias batalhas. As forças militares brasileiras, chefiadas pelo Almirante Barroso, venceram a batalha do Riachuelo, libertando o Rio Grande do Sul. Em maio de 1866, ocorreu a batalha de Tuiuti, que deixou um saldo de 10 mil mortos, com nova vitória das tropas brasileiras.
Em setembro, porém, os paraguaios derrotam as tropas brasileiras na batalha de Curupaiti. Desentendimentos entre os comandantes militares argentinos e brasileiros levaram o imperador Dom Pedro II a nomear Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, para o comando geral das tropas brasileiras. Ainda assim, em 1867, a Argentina e o Uruguai se retiram da guerra. Ao lado de Caxias, outro militar brasileiro que se destacou na campanha do Paraguai foi o general Manuel Luís Osório.
Sob o comando supremo de Caxias, o exército brasileiro foi reorganizado, inclusive com a obtenção de armamentos e suprimentos, o que aumentou a eficiência das operações militares. Fortalecido e sob inteiro comando de Caxias, as tropas brasileiras venceram sucessivas batalhas, decisivas para a derrota do Paraguai. Destacam-se as de Humaitá, Itororó, Avaí, Angostura e Lomas Valentinas.

 

Vitória brasileira

No início de 1869, o exército brasileiro tomou Assunção, capital do Paraguai. A guerra chegou ao fim em março 1870, com a Campanha das Cordilheiras. Foi travada a batalha de Cerro Corá, ocasião em que o ditador Solano López foi perseguido e morto.
Vale lembrar que, a essa altura, Caxias considerava a continuidade da ofensiva brasileira uma carnificina e demitiu-se do comando do exército, que passou ao conde d'Eu, marido da princesa Isabel. A ele coube conduzir as últimas operações.

 

Conseqüências da guerra

Para o Paraguai, a derrota na guerra foi desastrosa. O conflito havia levado à morte cerca de 80% da população do país, na sua maioria homens. A indústria nascente foi arrasada e, com isso, o país voltou a dedicar-se quase que exclusivamente à produção agrícola.
A guerra também gerou um custoso endividamento do Paraguai com o Brasil. Essa dívida foi perdoada por Getúlio Vargas, quase meio século depois. Mas os encargos da guerra e as necessidades de recursos financeiros levaram o país à dependência de capitais estrangeiros.
A Guerra do Paraguai também afetou o Brasil. Economicamente, o conflito gerou muitos encargos e dívidas que só puderam ser sanados com empréstimos estrangeiros, o que fez aumentar nossa dependência em relação às grandes potências da época (principalmente a Inglaterra) e a dívida externa. Não obstante, o conflito armado provocou a modernização e o fortalecimento institucional do Exército brasileiro.
Com a maioria de seus oficiais comandantes provenientes da classe média urbana, e seus soldados recrutados entre a população pobre e os escravos, o exército brasileiro tornou-se uma força política importante, apoiando os movimentos republicanos e abolicionistas que levaram ao fim do regime monárquico no Brasil.

Guerra Fria (Slides)


domingo, 26 de junho de 2016

Divirta-se aprendendo, aprenda se divertindo - Jogos!

Jogo de simulação, com bons gráficos. Excelente para comprender o contexto da Revolução Francesa.


Jogaço de estratégia nos moldes de Civilization III e Caesar!


Gráficos, sons e jogabilidade estonteantes em uma das melhores produções gratuitas de estratégia em tempo real!


Reconstrua o mundo livre e democrático após um holocausto nuclear que varreu a humanidade da Terra.


EUA, União Soviética, Alemanha ou Inglaterra, escolha seu país e vá para linha de frente em plena 2ª Guerra!


Volte à era do descobrimento da América, e crie uma nação independente.


Escolha um herói dentre 4 dos maiores impérios da antiguidade e desenvolva sua civilização.

Análise de Filme - Avatar



Assistindo Avatar - O filme, não pude deixar de notar as semelhanças de dinâmicas e discursos entre a obra cinematográfica e a realidade dos processos de dominação territorial e desapropriação de culturas (ou, aculturação), levantando o debate antropológico sobre cultura (apropriando-se de Malinowski), quem seriam os Navi's senão uma sociedade "pronta" a ser dominada por outra sociedade (os humanos)? Levando para o campo da História das Guerras, a imagética do filme de James Camerom me fez lembrar muito das filmagens realizadas durante a guerra do Vietnã, enfim, fiquem com uma análise mais aprofundada dessa obra que considero bastante interessante para discutirmos "cultura", "conquistas", "relações de poder" e "imperialismo", clique em "Continue sua leitura".

Muito mais que um filme de ação repleto de incríveis efeitos especiais, Avatar traz uma bela reflexão sobre o choque de culturas decorrente da expansão da ordem social moderna e suas terríveis consequências para as sociedades tradicionais.
Passando-se no ano de 2156, o filme tem como pano de fundo a exploração de um planeta chamadoPandora, com incríveis belezas naturais e habitado por um povo chamado de Nav’i — humanoides azuis de membros longos que vivem em harmonia com o seu habitat. Uma poderosa empresa privada tem a primazia da exploração do território conquistado, que contém um valioso minério. Contudo, a maior reserva já encontrada deste inestimável mineral está localizada exatamente sob o território da comunidade nativa. Assim, é enviado um grupo de cientistas conectados a avatares idênticos aos nativos, artificialmente criados para interagir com os alienígenas e fazê-los sair pacificamente de suas terras. O problema está no fato de que para os nativos o local onde vivem possui um valor religioso, pois ali é supostamente a morada da sua deusa, Eywa.
O soldado Jake Sully, designado para acompanhar a equipe de cientistas, perde-se de seu crewdurante uma expedição e acaba entrando em contato com os Nav’i. A partir daí ele vai conhecendo o seu modo de vida, o que precisa aprender para viver em comunidade e os rituais de iniciação para tornar-se um guerreiro. Sully se encanta com os nativos e percebe o niilismo da sua própria vida, como um paraplégico sem qualquer perspectiva no mundo civilizado — ao começar a se questionar se antes sua vida era apenas uma mentira e, agora, diante da simplicidade e beleza da comunidadeNav’i, acredita ter finalmente encontrado a verdade.
Com o roteiro muito similar aos filmes como Dança com Lobos e O Ultimo Samurai, em alguns momentos chega a lembrar Matrix, o longa mostra de maneira extremamente realista o modo de vida do povo de Pandora. Claramente inspirado nos povos tradicionais, mas precisamente nos indígenas americanos, com sua cosmogonia totalmente subordinada as leis da natureza, produzem sem a intenção de gerar excedente; possuem ainda uma organização política dividida entre os guerreiros, o chefe e o líder espiritual (não haveria entre eles a dominação carismática e tradicional, detectada por Florestan Fernandes ao estudar os Tupi?); a diferenciação dos indivíduos ainda é muito tênue, o nível de divisão social do trabalho quase não se faz notar, deixando entrever que entre eles é predominante relações de solidariedade mecânica; entendemos a solidariedade, conceito criado por Emile Durkheim, como o substrato que matem a coesão dos homens na vida social — a solidariedade mecânica ocorreria quando os indivíduos, pouco se diferenciando entre si, com um sistema de crenças e sentimentos comuns, são, portanto, ligados diretamente à sociedade, sem qualquer instituição que os intermediasse; neste tipo de solidariedade os indivíduos não se pertencem, eles pertencem a sociedade…
Avatar mostra diversos personagens e seus respectivos olhares para o processo de contato entre humanos e os habitantes de Pandora. Como da pesquisadora Grace, um misto de antropóloga e bióloga, que possui um interesse quase que totalmente científico pelos nativos. Ao usar avatares para deles se aproximarem está, na verdade, usando o clássico método da Observação Participantecriado pelo celebre antropólogo Malinowski, que consiste basicamente em ser, sentir e participar das atividades da comunidade como faz o nativo, pois só assim o estudioso poderia chegar o mais perto possível da cultura em questão. Grace possui uma imagem muito próxima dos primeiros antropólogos do começo do século XX, cientistas que, indo estudar os povos das terras conquistadas do Império, teriam seus trabalhos usados para amansar povos rebelados ou propiciar instrumentos para impedir que novas rebeliões ocorressem. Um dos exemplos mais clássicos de etnografias usadas como instrumentos de políticas imperialistas é Evans Pritchard, que estudou o povo Nuer, do Sudão — atualmente o governo americano tem lançado mão de antropólogos para mediar a relação entre militares e iraquianos. O sociólogo Guerreiro Ramos explicita bem este caráter escuso da antropologia:
De modo geral, a antropologia europeia e norte americana tem sido, em larga margem, uma racionalização ou despimento da espoliação colonial. Este fato marca nitidamente o seu inicio, pois ela começou fazendo dos povos primitivos o seu material de estudo.    
Os personagens do Coronel Quaritch e do executivo da empresa encarnam o arquétipo do militarismo imperialista e da faceta perversa do capitalista que procura a todo custo expandir seus negócios e seus lucros. Preconceituosos e intolerantes para com um povo de uma matriz cultural diferente, apenas enxergam os nativos como um obstáculo aos seus empreendimentos. A cena mais representativa disso é quando a cientista Grace, argumentando para evitar o desmatamento de uma grande área de mata, diz ao executivo que as mesmas tinham criado uma espécie de conexão neurológica entre elas, como se fossem um grande cérebro, e acaba recebendo como resposta: “O que vocês fumaram para inventar isso? São apenas árvores!”
Quando um ataque de hordas de Nav’i contra as instalações dos humanos torna-se iminente, oCoronel Quaritch, discursando para seus soldados sobre o perigo, usa termos muito semelhantes ao da extrema direita americana na época da invasão do Iraque: “Vamos combater terror contra terror” e no fim de sua fala debocha das crenças nativas.
São seres desnecessários para a história e para o progresso da humanidade — muito lembrando a célebre obra Fausto, de Goethe. O seu personagem principal, que dá nome ao livro, está pondo em marcha um dos seus maiores empreendimentos e de repente se depara com um empecilho: uma pequena e velha casa está justamente no meio do terreno onde será o erguido o projeto. Fausto, então, visita seus moradores, um casal de velhos chamado Filemo e Báucia, e lhes oferece uma polpuda quantia para comprar a habitação. Os dois anciões, que tinham naquela velha residência um forte laço afetivo, recusam a oferta. Fausto, sentindo-se ultrajado, chama Mefistófeles e seus homens e ordena que os velhos sejam removidos o mais rápido possível. Não se importa em saber como será feito, apenas deseja que o “problema” seja resolvido da maneira mais ligeira. No outro dia Mefistófeles retorna, dizendo que a casa foi incendiada e os velhos mortos. Marshall Bermanexemplifica muito bem esse tipo de atitude: “Isso é um estilo de maldade caracteristicamente moderno: indireto, impessoal, mediado por complexas organizações e funções institucionais.” Qualquer semelhança entre as aspas de Berman e as arbitrariedades que a empresa Log-in lançou mão para aprovar o Porto das Lajes não é coincidência…
Os nativos de Pandora são uma ótima representação daquele grupo de pessoas que terão larga repercussão na ordem social moderna: aquelas que estão no caminho da historia e do progresso. São pessoas completamente obsoletas para este Carro de Jangrená chamado modernidade — estes indivíduos, comunidades, culturas ou sociedades, por sua incapacidade de adequarem-se ao novo sistema, são irremediavelmente descartados.
O sofrimento que os Nav’iexperimentam ao verem suas florestas queimadas, seus lares destruídos, sua cultura e tudo naquilo que mais acreditam sendo desmanchado lembra o flagelo que as populações indígenas sofreram, e ainda sofrem, com o processo de contato com os ditos civilizados — resultando num verdadeiro genocídio para os povos tradicionais. Entretanto, como mostra o filme, mesmo de forma estilizada, o processo de contato não ocorre com a total passividade do lado mais fraco. Muitas vezes a etnia ou a sociedade reagem a tal processo, seja aprendendo os mecanismos da cultura do branco e usando-a como meio de reivindicação por melhores condições ou como protesto por abusos sofridos, como tem ocorrido na atualidade, Marshall Sahlins chama isso de autoconsciência cultural; seja com o embate direto, como em coligações militares como a do Rio Negro liderada pelo grande Ajuricaba nos anos de colonização de Amazônia. Infelizmente, no filme, esse processo é enfocado de maneira completamente preconceituosa, colocando um “branco” para organizar o exército nativo — o diretor roteirista James Cameron deixa escapar a visão que eles são incapazes de se auto-organizarem e lutar pela sua pátria.
Não se sabe se Cameron leu DurkheimMalinowski ou Sahlins, mas, por detrás das deficiências do roteiro e dos impressionantes efeitos especiais, o filme pode ser uma boa fonte de debates, se assistido com um olhar correto, a respeito do lugar das sociedades tradicionais no mundo moderno, das nefastas consequências da situação de contato ou do nosso modelo de civilização — insustentável do ponto de vista ambiental e implacável para com os mais fracos.
 por Ricardo Lima.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O cidadão Kane (Filme)

Título lidera lista de 100 melhores filmes desde 1962.
Figura mitológica da imprensa norte-americana, o multimilionário Charles Foster Kane morre sozinho na sua extravagante mansão e dá um último sussurro: “rosebud”. Na tentativa de descobrir o significado da palavra, um repórter procura pessoas que conviveram e trabalharam com Kane. Elas relatam a vida e a ascensão dele, mas não ajudam a decifrar a charada de sua morte.
"Ainda é rebelde frente a Hollywood, irônico no tratamento da realidade e da celebridade, reflexivo ao jogar com as convenções cinematográficas e perspicaz na combinação de gêneros, desde a comédia maluca até o primeiro noir." (Sight & Sound)

Assista ao filme completo aqui

terça-feira, 21 de junho de 2016

Napoleão - A besta e o mito


A besta e o mito
Centenas de publicações retratavam Napoleão Bonaparte como um monstro. Ainda assim, o imperador francês fascinou D. Pedro.


Por: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves
Terra corrompida, mentira, impiedade, cauda de pavão, unha de tigre ensanguentada, coração de um corso e cabeça de raposa: estes são ingredientes da Receita especial para fabricar Napoleões, um soneto publicado em folheto que circulou no Rio de Janeiro em 1809. Os dois tercetos ensinam o preparo da “iguaria”:


“Tudo isto bem cozido em lento fogo
De exterior fagueiro, meigo e brando,
Atrevida ambição lhes lances rogo:

Deixa que se vá tudo incorporando,
E assim mui presto espera; porque logo
Sai um Napoleão dali voando”.

Folhetos como esse – impressos em Portugal ou aqui reimpressos – eram anunciados por livreiros na Gazeta do Rio de Janeiro. Títulos como Besta de Sete Cabeças e Dez Cornos ou Napoleão, Imperador dos franceses já indicavam a que se propunham as publicações: combater Bonaparte. Tanto pelo preço baixo como pelo pequeno número de páginas, os panfletos eram publicações mais acessíveis para a divulgação das ideias e tiveram maior circulação que os jornais. Incapazes de ler, as camadas mais humildes da sociedade podiam escutar a leitura em voz alta, assimilando as informações pelo filtro de sua imaginação.

Centenas de publicações – além de panfletos, havia páginas de pequenas histórias e anedotas – traduziram os momentos difíceis vividos pelo mundo luso-brasileiro. Portugal sofria com a ausência do soberano e a guerra de ocupação em seu território Mesmo o Brasil, agora cenário da Corte portuguesa, do qual deviam emanar os novos atos administrativos do Império português, vivenciou momentos difíceis na ordem política e econômica. Os escritos chegaram a atingir o número de mais de três mil, em Portugal, entre 1808 e 1814. (...)

Revista de História da Biblioteca Nacional



O Samba completa cem anos


O samba, ritmo musical criado pelos escravos africanos, símbolo da tradição cultural brasileira, patrimônio imaterial, reconhecido também pela Unesco em 2005 como Patrimônio da Humanidade, comemora esse ano de 2016, o seu centenário. O ano de 1916 entrou para a história da Música Popular Brasileira graças à iniciativa de Ernesto Joaquim Maria dos Santos mais conhecido como Donga, autor de Pelo telefone, datado de 1916 e, considerado o primeiro samba brasileiro.

Em 6 novembro de 1916, Ernesto dos Santos, o Donga, entrega uma petição de registro para o samba carnavalesco Pelo telephone, no Departamento de Direitos Autorais, da Biblioteca Nacional. A partitura manuscrita para piano, feita por Pixinguinha estava dedicada a dois foliões, os carnavalescos Peru, Mauro de Almeida e Morcego, Norberto Amaral.  Em 16 de novembro de 1916, Donga anexou à petição um atestado que afirmava ter sido o sambaPelo telephone executado pela primeira vez em 25 de outubro de 1916 no Cine-Teatro Velho.  O registro da obra  foi efetuado pela Biblioteca Nacional em 27 de novembro de 1916, com o número 3.295.
O samba Pelo telephone fez grande sucesso no carnaval de 1917, dando origem a inúmeras paródias.
A palavra samba procede da expressão africana semba (umbigada), empregada para designar dança de roda, popular em todo o Brasil. Os sambas mais conhecidos são os da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Bahia, adquiriu denominações conforme as variações coreográficas. No Rio de Janeiro, inicialmente era a dança de roda entre os habitantes dos morros, daí nasceu o samba urbano carioca, espalhado por todo o território nacional.
Existem várias modalidades de samba.
  • samba de breque, com ritmo acentuadamente sincopado, caracteriza-se por paradas súbitas, os chamados "breques", que permitem que o cantor encaixe comentários falados alusivos ao tema. Seu mais conhecido intérprete é o cantor Moreira da Silva, cujo maior sucesso foi O Rei do gatilho, de 1962.
  • Já o samba-canção privilegia a melodia, geralmente romântica e sentimental, como o sambaCastigo, de Lupicinio Rodrigues e Alcides Gonçalves.
  • samba-enredo deve compreender os resumos poéticos de tema histórico, folclórico, literário, biográfico ou livre que for escolhido para enredo ou assunto da apresentação da escola de samba em seu desfile.
  • samba-exaltação apresenta letra de tema patriótico. A ênfase musical recai sobre o arranjo orquestral, sendo Aquarela do Brasil, grande sucesso de Ari Barroso, o exemplo perfeito desse estilo. A música foi gravada pelo cantor Francisco Alves em 1939.
Na Divisão de Música e Arquivo Sonoro, da Biblioteca Nacional é possível encontrar livros sobre samba, escolas de samba, assim como partituras de inúmeros sambas conhecidos e de grande sucesso, como dos compositores Donga, Sinhô, Noel Rosa, Mário Lago, Lupicinio Rodrigues, Wilson Batista, Ari Barroso, Herivelto Martins, Grande Otelo, Adoniran Barbosa, Ismael Silva, Ataulfo Alves e muitos outros.
No arquivo do Acervo de Música e Arquivo Sonoro é possível ouvir:
  • Pelo telephone com o Conjunto Regional de Donga e Zé da Zilda em gravação da Odeon datada de 1938;
  • Ai! Que saudade de Amélia, de Mario Lago e Ataulfo Alves, em gravação da Odeon de 1941;
  • Fita amarela, samba de Noel Rosa, tendo como intérprete Francisco Alves, em gravação da Odeon de 1932.

As veias abertas da América Latina - Eduardo Galeano (livro)


Os índios na formação do Brasil (Slides)

Grécia antiga (slides)


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Conflitos na Síria


Dentro de algumas semanas, postarei uma matéria chamada "entendendo os conflitos na síria" com informações, imagens e vídeos para uma melhor compreensão da dinâmica dos conflitos e dos problemas enfrentados pelos refugiados (dentro e fora do país).

Refugiados no Brasil (Infográfico)


A Camorra (Máfia Italiana)

Criada em Nápoles, na Itália, a Camorra é mais uma organização criminosa. O grupo já foi alvo de estudos, filmes e livros, tamanha a complexidade de sua organização. Criada em um meio urbano, surgiu em meados do século 19, quando Napoli pertencia ao Reino das Duas Sicílias, dos Bourbons. A organização controla seu território de perto e construiu uma teia de informantes e colaboradores junto às classes sociais mais pobres da Itália.
A Camorra conta com aproximadamente 110 famílias em operação em mais de 7000 colaboradores e afiliados. Suas atividades são inúmeras e seus trabalhos são executados em escala global. Entre os crimes praticados pelo grupo, podem ser destacados: jogo clandestino, monopólio da produção de cimento em Campânia (região sul da Itália), fraude na importação de carne, tráfico de drogas, contrabando de cigarros, entre outros.



O grupo nasceu entre quadrilhas da chamada "mallavita" (marginalidade), como já foi dito acima, ao contrário da Máfia Siciliana, de origem rural, a Camorra é de origem urbana. Outra diferença entre a Camorra e a Máfia Siciliana está no ponto de vista organizacional, enquanto a primeira mantém seus grupos unificados, a Camorra nunca conseguiu juntar os cerca de 100 grupos criminais que controlam suas operações.
Mas as diferenças com a Máfia não acabam aí, a Camorra não conseguiu organizar a sua Comissione (o que seria como uma cúpula de governo) e por isso não teve um vértice. Então, nos anos 60, ocorreu uma tentativa de unificar os clãs para organizar melhor o contrabando de tabaco. Entretanto, a tentativa falhou e Raffaele Cutolo, expoente do grupo, acabou criando a Nova Camorra Organizada, em uma derradeira tentativa de consolidar a organização em meados dos anos 70.

Em 1980, clãs comandados por Zaza, rei do contrabando de cigarro norteamericano na Itália, Bardellino e Nuvolete se opõe à Cutolo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone (IBGF), a Camorra movimentou um mercado de drogas de 500 mil euros por dia em 2004. “Mulheres com crianças nos braços ocuparam o centro do bairro chamado Fiori (flores), local usado pela Camorra no ”despacho e venda" de cocaína, heroína e drogas sintéticas fabricadas em fundo de quintal” (texto sobre a Camorra na página do IBGF).

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Camorra
http://ibgf.org.br/index.php?data[id_secao]=3&data[id_materia]=284
Tognolli, Cláudio & Arbex, José Jr. O Século do Crime. São Paulo: Editoral Boitempo, 1996.
http://it.wikipedia.org/wiki/Raffaele_Cutolo
http://www.infoescola.com/sociedade/camorra/

Por que os limites entre os estados dos EUA são "retos"?

Porque os territórios dos Estados Unidos foram organizados para facilitar a política, a economia e a administração do país. A formação do território americano não seguiu barreiras naturais, como rios e cadeias de montanhas, comuns em outros países. Em vez disso, os estados americanos têm fronteiras "secas" e retas, para que as áreas sejam parecidas. Assim, os estados ficam mais iguais entre si e disputam investimentos das empresas de maneira mais equilibrada. Mesmo assim, o maior estado, o Alasca, é 540 vezes maior que Rhode Island, o menor. 



CADA UM NO SEU QUADRADO
Divisão do território seguiu linhas retas
No período colonial, as 13 colônias já eram divididas em linhas retas. Com a independência do país, as colônias viraram estados e, em 1789, alguns deles cederam parte de sua área ao governo federal em pagamento por dívidas. Esses territórios, chamados de não organizados, eram administrados pelo governo federal enquanto não era definido o controle local.
No século 19, a região a oeste era dividida entre Espanha, França, áreas sem dono e os próprios EUA usando fronteiras naturais, como rios e montanhas. O rio Mississippi, por exemplo, separava o território de Indiana e a Louisiana, que foi comprada da França em 1803. Os limites do país passaram a ser montanhas Rochosas a oeste e o rio Vermelho ao sul.
Em 1821, um tratado assinado entre EUA e Espanha definiu as fronteiras mais a oeste. Mais uma vez, as divisões eram retas, facilitando a fiscalização e evitando conflitos entre as duas nações. As áreas com divisões mais tortas eram as que ainda não eram estados consolidados (ou seja, com governo local), mas, sim, territórios federais.
Na década de 1850, por meio de outro tratado, os EUA conquistaram o Oregon, que antes era administrado em conjunto com o Reino Unido. Além disso, com a independência do Texas e o fim da guerra com o México, mais terra veio para domínio americano. O país continuou sendo dividido em grandes quadrados de terra, separados apenas pelas montanhas Rochosas.
A partir de 1867 os EUA continuaram dividindo grandes blocos em quadrados menores. Em 1959, definiram o mapa comprando o Alasca da Rússia e incorporando o Havaí. Hoje, dos 50 estados, poucos escapam às fronteiras retas. As exceções são os estados por onde passam os rios Mississippi, Missouri e Ohio, e pontos como a fronteira entre Idaho e Montana, guiada pelas Rochosas.
Fonte: Mundo Estranho

domingo, 19 de junho de 2016

Participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial

No dia 1º de setembro de 1939, as forças nazistas alemãs de Adolf Hitler invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. O Brasil passou a participar do conflito a partir de 1942. Na época, o presidente da República era Getúlio Vargas.
A princípio, a posição brasileira foi de neutralidade. Depois de alguns ataques a navios brasileiros, Getúlio Vargas decidiu entrar em acordo com o presidente americano Roosevelt para a participação do país na Guerra.

Embora a história dos pracinhas - diminutivo de praça, que é soldado - seja ainda pouco comentada no Brasil, Marcus Firmino Santiago da Silva, coordenador do curso de Direito da Escola Superior Professor Paulo Martins, do Distrito Federal, e estudioso sobre a Segunda Guerra, afirma que a participação brasileira foi muito importante. "O apoio do Brasil foi disputado na Segunda Guerra. De forma um pouco velada por parte dos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão) e de maneira clara pelos aliados, especialmente os norte-americanos, além da Inglaterra e da França", afirma.


O primeiro grupo de militares brasileiros chegou à Itália em julho de 1944. O Brasil ajudou os norte-americanos na libertação da Itália, que, na época, ainda estava parcialmente nas mãos do exército alemão. Nosso país enviou cerca de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e 42 pilotos e 400 homens de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB).

Os pracinhas conseguem vitórias importantes contra os alemães, tomando cidades e regiões estratégicas que estavam no poder destes, como o Monte Castelo, Turim, Montese, entre outras. Mais de 14 mil alemães se renderam aos brasileiros, que também ficaram com despojos como milhares de cavalos, carros e munição.
A ação dos pracinhas não foi fácil por vários motivos. O primeiro, porque o treinamento recebido no Brasil e nos Estados Unidos não era muito próximo à realidade da guerra que encontraram. Os soldados não estavam habituados ao clima frio dos montes Apeninos, que atravessam a Itália e nem acostumados a lutar em local montanhoso. Só na batalha do Monte Castelo, houve mais de 400 baixas entre os brasileiros.
"Além disso, foi fundamental para o esforço de guerra a cessão de bases navais e aéreas no território brasileiro. Um desses locais que teve participação decisiva foi Natal, no Rio Grande do Norte", afirma o professor. A capital potiguar serviu como local para abastecimento dos aviões de guerra americanos e base naval antissubmarinos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, a FEB foi desfeita em 1946.